A actualidade da palavra do Padre António Vieira foi recordada no passado fim-de-semana, no encontro Fé e Justiça que aconteceu no âmbito de uma conferência organizada pelo Centro Universitário Padre António Vieira (CUPAV), pelo Círculo Vieira e pelo Instituto Padre António Vieira. Subordinado ao tema "Padre António Vieira: os mesmos desafios quatro séculos depois", este evento inseriu-se nas comemorações dos 400 anos do nascimento do missionário, escritor e orador português da Companhia de Jesus.
O encontro dividiu-se em quatro painéis: "Os Direitos Humanos", "O Diálogo Inter-Cultural e Inter-Religioso", "Um Desígnio para Portugal" e "O Serviço da Fé", e contou com a presença de Diogo Freitas do Amaral, do presidente do Tribunal de Contas, Guilherme Oliveira Martins, da vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, Esther Mucznik, de Roberto Carneiro, do Padre Vaz Pinto, de António Vitorino, das jornalistas Paula Moura Pinheiro e Laurinda Alves, e de Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros.
Foram citadas várias partes dos seus sermões e discutidas, paralelamente, várias questões relacionadas com a actualidade, tais como a situação actual de Portugal face ao futuro e a situação do diálogo entre culturas e entre religiões.
Focando a singularidade da sua obra, nomeadamente na defesa dos índios brasileiros, Guilherme d''Oliveira Martins justificou a importância da evangelização do índio como defesa da dignidade e procura de que essa igualdade se traduzisse no dia-a-dia. "Oh trato desumano em que a mercancia é o homem", disse citando Padre António Vieira, classificando-o como profeta à frente do seu tempo.
"Nós judeus também guardamos uma memória importante de Padre António Vieira", afirmou Esther Mucznik ao iniciar a sua intervenção, lembrando outra das vertentes da sua obra, a de defesa dos judeus e dos cristãos-novos, que o levou a ser preso pela Inquisição. A representante da comunidade judaica aproveitou a oportunidade para afirmar que "contrariamente às aparências, o diálogo entre religiões não é nada fácil. Mesmo no judaísmo ainda existe algum ressentimento", acrescentando que "é favorável ao diálogo inter-religioso", embora considere que "este não existe em Portugal, em especial porque as confissões não-católicas têm uma expressão muito pequena na sociedade portuguesa" sendo esse diálogo "um poderoso instrumento de combate a preconceitos".
Quanto à garantia da existência de um desígnio para Portugal, António Vitorino salientou a necessidade de resposta a três "tensões": crescimento das desigualdades sociais; debate entre a afirmação de Portugal como país "atlantista" ou continental, defendo que "deveríamos apostar inequivocamente numa visão cosmopolita assente na Europa" e, por fim, a "qualidade da nossa democracia em relação ao conjunto dos cidadãos e, não só, em relação a alguns".
Na sequência da intervenção de António Vitorino, o também comentador, Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentou que "haverá razões para desânimo num país que vive há vários anos numa crise económica e social", mas por outro lado, "Portugal, em 40 anos, enfrentou os desafios do fim do ciclo do império, descobriu e construiu uma democracia, encarou o desafio de se integrar no processo europeu do século XXI e construiu uma nova economia contra a visão de um Estado protector".
O ciclo de comemorações irá ainda continuar até dia 14 de Fevereiro, contando com várias actividades, onde se incluem o "Eléctrico Chamado Vieira", carreira do eléctrico 28 que liga o Largo do Camões à Graça e roteiros pela Lisboa de Vieira.
( in Edit on Web 11.2.08)
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
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