O académico e jornalista António Valdemar destacou a faceta de estratega do Padre António Vieira, comparando a sua «astúcia» à de um James Bond.
«Um estratega com preocupações de Clausewitz, astuto como um agente 007, com a percepção de Sigmund Freud acerca da importância dos sonhos, precursor da teoria da comunicação de McLuhan, com a prática da meditação de um discípulo de Zen e ainda lutador pela causa dos direitos humanos com a tenacidade de Luther King», disse Valdemar, parafraseando Arnaldo Niskier, da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa.
O jornalista falava num colóquio realizado hoje ao fim da tarde, no âmbito da sessão de abertura das Comemorações Oficiais do IV Centenário do Nascimento do Padre António Vieira, que decorreu na Academia das Ciências de Lisboa com a presença do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e uma conferência do ensaísta Eduardo Lourenço intitulada «Vieira: Do Verbo como Império ao Império do Verbo».
O Padre António Vieira nasceu em Lisboa no dia 06 de Fevereiro de 1608 e morreu no Brasil em 1697.
António Valdemar classificou ainda aquele jesuíta português como um orador «sem paralelo», que «seguiu os modelos da Antiguidade Clássica, do pensamento e da literatura medievais, aprofundou os prosadores e poetas quinhentistas, as bases doutrinais do Concílio de Trento e outras directrizes da Contra-Reforma», mas foi «sempre ele próprio».
«Tem um discurso organizado, persuasivo, às vezes provocador, para se apoderar do auditório. Criou um estilo que é só dele. Sem uma palavra a mais, sem uma palavra a menos, sem uma palavra que pudesse ser outra«, observou.
«Nele não há tempos fracos, todos são fortes. O discurso de Vieira é empolgante. Entre os principais clássicos é o mais acessível. Continua a despertar e a prender a atenção», frisou.
Segundo o académico, 2008 Ano Vieirino serve para enaltecer «o génio que engrandeceu a língua na qual dizemos uns aos outros o que nos une e o que nos distingue, realidade quotidiana e património intemporal de portugueses, brasileiros, africanos, orientais, pátria de pátrias, instrumento de cultura e civilização com íntimas cumplicidades de afecto e fortes vínculos de história».
(Lusa 7.2.08)