sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

"Paiaçu" Vieira

O padre Antonio Vieira nasceu no dia 6 de fevereiro de 1608, em Lisboa, e faleceu, na Bahia, no dia 17 de junho de 1697, com 89 anos de idade. Assim, no último dia 6 do corrente mês, muitos portugueses e brasileiros, bem como a comunidade jesuíta comemoraram o quarto centenário do nascimento de Vieira.

Dividiu seu coração com Portugal e o Brasil, sendo portanto reconhecido por muitos como o maior filósofo, teólogo, intelectual e orador luso-brasileiro de todos os tempos. Além de 200 sermões e mais de 500 cartas, produção reunida em 16 e 3 volumes, respectivamente, na edição de Coimbra (1925-1928), redigiu o “Clavis Prophetarum”, livro de profecias inconcluso. O Sermão da Sexagésima ou do Evangelho, dentre alguns que tivemos oportunidade de ler, evidencia a forma barroca de sua linguagem consubstanciando conceitos religiosos baseados na Escolástica, como também uma consciência pós-renascentista.

A contribuição literária e as atividades do padre Antonio Vieira levaram em consideração temas relevantes para Portugal e o Brasil, tais como: a defesa dos cristãos novos (judeus que não eram aceitos pela inquisição); oposição rigorosa à inquisição; a luta diplomática e efetiva, contra os holandeses, visando manter a integridade do território brasileiro, notadamente, Pernambuco e Bahia, regiões desejadas em razão da grande produção de açúcar; proteção aos índios do Maranhão, que o chamavam de “Paiaçu” (Grande Pai em Tupi), e aos escravos africanos trazidos e mantidos, de forma desumana, na Bahia. Missionário da Companhia de Jesus, teve ainda papel significativo como diplomata e conselheiro político dos governantes da nação portuguesa.

Vale destacar que sua crença, típica do sebastianismo, influiu sobremaneira no seu pensamento filosófico. Sempre que lemos o Sermão da Sexagésima, lembramo-nos dos Evangelhos de São Lucas, VIII, 11. e de São Mateus, XIII, 3. “Semen est verbum Dei” (A semente é a palavra de Deus) e “Ecce exiit qui seminati seminare” (Eis que o semeador saiu a semear).

(GONZALO MOTA, professor e economista, no DIÁRIO DO NORDESTE 8,2.08)