"Neste mês de fevereiro cumpre-nos celebrar - com pompa e circunstância - dois lusitanos, que brilharam neste Brasil que tão bem nos recebe, e que adotamos como segunda Pátria; são eles:
O Padre jesuita Antônio Vieira, nascido há precisamente 400 anos (06/fev/1608) em Lisboa, mas chegado ao Brasil em janeiro de 1616, onde - nos colégios-universidades do Salvador da Baía e de Olinda - recebeu toda a sua instrução e formação acadêmica, que o tornaram o maior orador e escritor sacro de seu século, e um dos maiores de todos os tempos, autor que foi de mais de 200 sermões, 500 cartas e outras peças literárias de inegável valor, por sua forma estilística pura e bela, e de riquíssimo e erudito conteúdo, onde sobressaem uma vibrante e arrebatante eloquência e uma indesmontável retórica. De notar que, para escrever a sua gigantesca obra para o tempo, não dispunha Vieira de nada mais que a grosseira pena de escrever, que a todo o momento necessitava mergulhar no tinteio, para só depois passar as suas idéias a um grosseiro e absorvente papel, onde o borrão era comum.
Eram os então designados colégios centros de ensino superior, nome ainda hoje muito usado, não apenas nos países de língua inglesa, como ainda em outras terras e circunstâncias, caso do
Collège de France; enfatizamos o fato em virtude de - muitas vezes - e creio que por ignorância de quem o diz, ouvirmos que só com D. João VI o Brasil teve escolas superiores, talvez porque o nosso Príncipe, depois rei D. João VI, teve a preocupção - entre outras - de logo após a sua chegada, implantar algumas das ainda hoje famosas faculdades brasileiras.
Na época da intolerância, foi Antônio Vieira o humanista defensor dos oprimidos, especialmente dos índios nativos, que o apelidaram de Paiaçu ou grande Pai. Mas esse atributo do jesuita foi apenas um, dos muitos que o engrandeceram. Na realidade, quando estudamos Vieira, logo sobressaem as variadas facetas deste grande português do Brasil, onde avulta e brilha o primoroso escritor, o pregador sacro sem concorrente, o humanista e homem de ação sem paralelo, o político e diplomata de muitas causas e batalhas, o filólogo que dominava todas as línguas cultas e ainda sete dialetos nativos, nos quais escrevia os castecismos com que evangelizava os seus queridos índios. Deste modo, podemos compreender que a moderna língua portuguesa - saída do gênio de Camões - tenha sido, como os diamantes, lapidada e consolidada pela elegante, precisa e erudita escrita (e também pela voz) do padre Antônio Vieira, que elevou a prosa portuguesa à sua mais brilhante e pura expressão, como Camões já tinha feito com a poesia épica e lírica.
O Príncipe D. João, depois rei D. João VI, aqui chegado no início de 1808, acompanhado pela sua corte de cerca de 15.000 pessoas espremidas em 36 navios, trazendo consigo os corpos docente e discente do Colégio dos Nobres (também ele de nível superior), a sua rica biblioteca hoje núcleo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, o tesouro do reino de cerca de 80 milhões de cruzados em ouro e diamantes (ou 180 milhões segundo certos autores), as primeiras impressoras que no Brasil houve(ram), e tudo que de valor e interesse se conseguiu embarcar em Lisboa, às vésperas da chegada das hordas napoleónicas, que tudo roubabam, tudo violentavam, tudo destruíam.
A vinda da corte foi uma retirada estratégica, que permitiu a Portugal manter a independência através do Brasil, ao mesmo tempo que impediu as tropas de Junot de se apoderarem das riquezas transportadas, que aqui contribuíram para o desenvolvimento do Brasil, como a fundaação do primeiro banco oficial do então Império Português, que foi o Banco do Brasil, em outubro de 1808, no Rio de Janeiro. Mas, como atrás referimos, ao iluminado Príncipe coube - além da abertura dos portos - fundar muitas escolas superiores, como faculdade de Direito, escolas de medicina e cirurgia da Baía e do Rio de Janeiro, academias militares e escolas de desenho e risco (engenharia), que iriam dar à nova sede do governo, e logo depois Império do Brasil quadros para o seu desenvolvimento.
É esta a altura ideal para fazer justiça ao primeiro rei do Brasil, recuperando uma imagem por vezes aviltada, por historiadores cegos por um nacionalismo capenga, ou por cinegrafistas desonestos em busca de popularidade fácil e de faturamento repugnante, porque originado na deturpação da história e na adulteração de fatos, personagens e obras que marcaram a formação e engrandecimento de seu próprio país. Aliás, é esta (recuperação) a intenção do coordenador das comemorações dos 200 anos, acadêmico e ex-embaixador Costa e Silva, da Academia Brasileira de Letras, segundo as suas próprias palavras. Presta, assim, um grande serviço à sua Pátria, à história e à cultura lusófonas. BEM HAJA por sua reta intenção e meridiana coragem, pois corajoso necessita ser quem ousa enfrentar o establishement, sempre interessado em diminuir a grande obra dos colonizadores."
(José Verdasca, Escritor português)
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
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