A 6 de Fevereiro de 1608 nasceu, em Lisboa, António Vieira, que veio a ser missionário jesuíta, grande defensor dos índios e dos judeus, antiesclavagista, pregador da corte de Portugal, conselheiro do rei e embaixador político, mas o seu grande objectivo de vida pareceu ser o esclarecimento espiritual da Humanidade. Tendo vivido 89 anos, foi um dos maiores oradores do seu tempo, deixando cerca de 200 sermões, 700 cartas e outros escritos.
Vivendo na Baía desde os seis anos, contava apenas 15 quando, contra a vontade dos pais, entrou no noviciado jesuíta. Dada a sua inteligência superior e os seus dotes de oratória, aos 18 anos já era professor de Retórica no Colégio de Olinda, onde mais tarde foi lente de Teologia.
Até aos 32 anos, distinguiu-se como pregador no sertão baiano e em Salvador, defendendo sempre os mais desfavorecidos, assumindo interpretações pessoais de vários temas teológicos e mostrando uma certa tendência para uma visão profética. Viajando então para Lisboa, tornou-se num grande orador da Restauração portuguesa e dos cristãos-novos contra a Inquisição. Depois de ter sido encarregado de missões diplomáticas em França, Holanda e Itália, regressou ao Brasil com 45 anos, como superior dos missionários jesuítas, onde se distinguiu na cristianização dos índios e como antiesclavagista. Essa postura valeu-lhe a expulsão da então colónia, aos 53 anos, na companhia dos seus confrades.
Chegado à metrópole, foi interrogado, deportado para o Porto e para Coimbra, preso inicialmente no domicílio e depois em situação de incomunicabilidade, num lúgubre cubículo de reduzidas dimensões, sem luz e mal arejado. Aos 60 anos, Vieira foi libertado e iniciou uma luta pela supressão da Inquisição em Portugal.
Destacado para Roma, aí continuou essa luta nos sete anos seguintes, altura em que regressou a Lisboa, onde foi perdendo prestígio, o que o levou a voltar à Baía aos 73 anos. Aos 80, foi nomeado visitador da província do Brasil pelo responsável da Companhia de Jesus, na altura em que preparava a publicação dos seus "Sermões", o que foi acontecendo com sucesso. Seguiu-se a "História do futuro", que procurava ser uma previsão dos destinos de Portugal e do Mundo, mas que não chegou a acabar.
O Quinto Império - a "maravilha" da grande "mudança" a operar-se no "teatro" do mundo pelo "triunfo de Cristo" por acção dos portugueses - foi considerado por alguns um sonho enlouquecido e por outros o mito fundamental da sua visão profética relativa ao esclarecimento espiritual da Humanidade. E esse esclarecimento continuou e continua desejado por muitos outros, como Fernando Pessoa "No Quinto Império, haverá a reunião das duas forças separadas há muito, mas de há muito aproximando-se: o lado esquerdo da sabedoria - ou seja, a ciência, o raciocínio, a especulação intelectual, e o seu lado direito - ou seja, o conhecimento oculto, a intuição".
( Luís Portela, 13.2.08, "Jornal de Notícias" )
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
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