sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

"A vida e obra do Padre António Vieira"

Nasce no dia 6 de Fevereiro de 1608, em Lisboa, António Vieira, filho de Cristóvão Vieira Ravasco e Maria de Azevedo. Em 1614, a família viaja para o Brasil, fixando-se em São Salvador da Bahia de Todos os Santos. A então capital brasileira reunia cerca de 15 mil habitantes (3 mil portugueses, 9 mil índios e 3 a 4 mil escravos africanos).

Aos 5 de Maio de 1623, António inicia os seus estudos no Colégio dos Jesuítas, como noviço. No ano seguinte (1624), os holandeses invadem a pequena cidade e António vai viver, durante perto de um ano numa aldeia de índios, cujas tradições aprende a respeitar, ao mesmo tempo que divulga as Leis de Cristo. Acossados pela população, os holandeses rendem-se em 30 de Maio de 1625.António Vieira começa a redigir, em 1626, as Cartas Ânuas, relatando as actividades da Companhia de Jesus, nos dois anos anteriores, e em 1627 dá aulas de retórica no Colégio de Olinda. É ordenado Presbítero em 10 de Dezembro de 1634 e celebra a primeira Missa três dias mais tarde. Prega o primeiro Sermão (em honra de São Sebastião, 6-3-1633). Entretanto, os holandeses voltam a atacar São Salvador em 16 de Abril, mas são repelidos. No dia 13 de Junho de 1640, o Padre Vieira prega o histórico Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as da Holanda, fazendo outro Sermão em acção de graças pelas vitórias portuguesas sobre os holandeses em 6 de Janeiro de 1641. Entretanto, no dia 15 de Fevereiro chega a notícia de que, em 1º. de Dezembro de 1640, Portugal se libertara do jugo espanhol, e aos 27 de Fevereiro de 1641 o Padre Vieira embarca para Lisboa a fim de anunciar ao Rei D. João IV que o Brasil apoiava o novo soberano de Portugal (o Vice-Rei, que era o Marquês de Montalvão, nomeara o seu filho D. Fernando de Mascarenhas, o jesuíta Pe. Simão de Vasconcelos e o Pe. Vieira como embaixadores da missão).

António Vieira fizera 30 anos e após as explicações necessárias perante D. João IV ganha a confiança do Rei, que o manda e, com outros, ele parte em 30 de Abril de 1641 para Roma, onde o Papa se mostra receoso dos protestos espanhóis, que não querem aceitar a independência de Portugal. Regressa e no dia 1º. de Janeiro de 1642 prega pela primeira vez em Lisboa, na Capela Real, deslumbrando os fieis com o Sermão dos Bons Anos. Seguem-se outros Sermões que consagram a fama do pregador – com o Sermão de Santo António, em Setembro (fez 9 sobre o mesmo tema) reclama aos nobres e ao clero que dêem mais apoio à luta pela Restauração Nacional.

Em 23 de Setembro de 1643 os holandeses são definitivamente derrotados em Guararapes (Pernambuco) e em 1644 o Padre Vieira é nomeado Pregador Régio e viaja outra vez para Roma, pedindo o reconhecimento papal da autonomia portuguesa. Cumpre a seguir outra missão real na França, tentando acertar o casamento do Príncipe D. Teodósio (filho de D. João IV) com a filha do Duque de Orleans, havendo quem chegasse a admitir a hipótese de o rei português abdicar no filho D. Teodósio – enquanto D. João IV poderia tornar-se o Rei do Brasil independente, projectos que não se concretizaram.

A influência de António Vieira aumenta e os seus adversários unem-se – o padre jesuíta Martim Leitão denuncia aos inquisidores (1649) os "desvios" teológicos do pregador, em virtude da defesa que Vieira faz dos escravos e dos judeus. É fundada a Companhia de Comércio do Brasil, com base em sugestão do grande pregador, que viaja para Roma (1650), propondo o casamento de D. Teodósio com a filha do rei de Espanha. Em seguida, embarca para o Brasil (22-XI-1652), desconhecendo-se os motivos da viagem. Prega o Sermão dos Escravos (São Luís do Maranhão, 22-V-1653): "Sabeis, cristãos, sabeis nobreza e povo do Maranhão, qual é o jejum que quer Deus de vós esta Quaresma? Que solteis as ataduras da injustiça, e que deixeis ir livres os que tendes cativos e oprimidos". E uma vez mais insiste na libertação dos escravos em carta de 20/5/1652 ao Rei.

Rodam os anos e acumulam-se as invejas contra o Padre António Vieira, que continua a defender índios e africanos. Em 1655, é aprovada a Lei da Liberdade dos Índios e ele volta ao Maranhão, sendo expulso com outros em Novembro de 1661.

É desterrado para o Porto em 1662, de onde o reenviam para Coimbra – e a Inquisição Portuguesa prende-o por mais de dois anos, proibindo-o de pregar e viajar. Libertado em 12-VI-1668, consegue ir a Roma – o Papa revoga as maiores punições inquisitoriais, Vieira retorna a Lisboa – e em 27-1-1681 reembarca para a Bahia. Nomeado Visitador-Geral da Companhia de Jesus no Brasil (17-I-1688), faz a redacção definitiva de alguns dos Sermões e morre em São Salvador da Bahia em 18-VII-1697: foi um grande evangelizador, um extraordinário dos dois Mundos e um dos nossos maiores prosadores – e é o "Imperador da Língua Portuguesa", como o chamou Fernando Pessoa.

(João Alves das Neves, 15.2.07, "Diário dos Açores"

2 comentários:

Anónimo disse...

Antonio vieira Foi uns dos Padres que Pregou os seguimentos de Jesus Por isso é conhecido.

Muito Bom!

josé macedo costa disse...

Para além de Evangelizador, foi também o incentivador do colectivo em pró do individual, nomeadamente assente no espírito mutualista, cooperativista e associativista. Encontra-se ainda hoje enraizado na cultura do povo por onde passou, nomeadamente, na região de Tocantins, centro oeste brasileiro, onde contactei pessoalmente com a mentalidade da cultura por ele implantada.