quinta-feira, 29 de maio de 2008

Viagem ao "Brasil do Padre António Vieira"

No IV Centenário do nascimento do padre António Vieira (1608 -2008), a revista "Amar & Servir" promove uma viagem ao Brasil

Conhecer a obra do missionário, escritor e pregador é o objectivo desta uma viagem ao “Brasil do padre António Vieira”, que decorre de 27 de Setembro a 12 de Outubro de 2008. São 15 dias de viagem histórica, cultural, missionária com passagem por locais relevantes na vida e obra do missionário.

São Luís do Maranhão, onde António Vieira pregou o sermão de Santo António aos peixes, em 1654, é um desses pontos de paragem numa deslocação que inclui a visita ao único deserto do mundo com milhares de lagoas. Rio de Janeiro, São Salvador da Baía, local onde António Vieira viveu a infância e foi ordenado sacerdote em 1635 faz parte deste percurso. Hoje os Jesuítas dirigem, em Salvador, o Colégio Padre António Vieira, com 2.500 alunos e o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, o primeiro de “Fátima” no mundo.

Acompanha a viagem o padre João Caniço, jesuíta. A viagem tem um custo de 3.750 euros em quarto duplo. Mais informações e inscrições, pelo telefone 217 541 620 ou e-mail.

FÁTIMA MISSIONÁRIA 29.5.08

"Passeio pelo Sagrado"

Um dos dados curiosos em torno da biografia do padre Antonio Vieira é a descrição do famoso “estalo” que o transformou no maior orador sacro da língua portuguesa. Segundo consta, o fato se deu diante de Nossa Senhora das Maravilhas, no Colégio dos Jesuítas da Bahia. Trata-se de uma imagem portuguesa em madeira, que chegou ao Brasil no século XVI, trazida pelo bispo D. Pero Sardinha, e aqui recebeu revestimento em prata. Preservada de várias intempéries – como a invasão holandesa de 1624 –, a peça é uma das relíquias do Museu de Arte Sacra da Ufba, o MAS.

Devido a seu valor cultural, a imagem foi escolhida para estampar a capa do livro que marca o início das comemorações dos 50 anos da casa. O aniversário ainda é em agosto de 2009, mas o MAS quer realizar uma série de atividades para dinamizar sua atuação. “Hoje em dia, a visão de museu abrange o compromisso com o social e com a divulgação da cultura. Eles são espaços onde se reverencia o passado para se projetar o futuro”, afirma o arquiteto Francisco Portugal Guimarães, diretor do MAS desde 1998.

Nesse contexto, insere-se o lançamento da publicação luxuosa, bilíngüe (português-inglês), que foi patrocinada pela Petrobras via Lei Rouanet. Na primeira parte, ela traz informações e fotos sobre a Igreja e o Convento de Santa Teresa D’Avila, o belo e imponente conjunto arquitetônico onde o MAS está instalado e que por si só já justifica um passeio por lá. Fundado pela Ordem dos Carmelitas Descalços e tombado desde 1938 pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), destaca Franscisco, é um dos mais importantes exemplares da arquitetura colonial do século XVII. O imóvel, pertencente à Arquidiocese de Salvador, foi reformado pela Ufba para ser o seu primeiro museu, numa das muitas ações do visionário reitor Edgard Santos.
Depois de apresentar a moradia, o livro traz um apanhado da coleção do MAS, que tem um total de cinco mil peças, pertencentes à própria universidade, à arquidiocese ou a instituições como o Mosteiro de São Bento, Igreja Belém de Cachoeira e Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, emprestadas em regime de comodato. Os exemplares selecionados para o livro foram agrupados em quatro seções: Imaginária, Marfim, Ourivesaria e Pintura. Cada uma delas vem acompanhada de um texto de um especialista sobre o tema.

Entre as preciosidades do acervo, por exemplo, na parte Imaginária, uma Nossa Senhora de Guadalupe, do século XVI, que representa a produção espanhola do período, e as peças em terracota do mestre Frei Agostinho da Piedade – que veio pequeno para Salvador e aqui produziu sua obra, no século XVII. Já na Ourivesaria, o diretor aponta o impressionante conjunto do altar-mor, todo em prata, da antiga Igreja da Sé, incorporado ao altar da Igreja de Santa Tereza. Hoje, um ciclo de palestras desdobra o conteúdo da publicação, com a presença da historiadora Maria Helena Flexor, da museóloga Mercedes Rosa, da escritora Myriam Fraga e dos arquitetos Eugênio de Ávila Lins e Francisco de Assis Portugal Guimarães, que assinam os textos do livro. O evento é gratuito e as inscrições são feitas na hora. O livro será vendido, a partir do próximo mês, na sede do museu, na Rua do Sodré, no centro da cidade, mas ainda não tem preço definido.

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Palestras de hoje
9h - Imaginária: aspectos de sua representação, com a historiadora Maria Helena Flexor10h - Ourivesaria sacra, com a museóloga Mercedes Rosa11h - Marfim: a riqueza que veio do Oriente, com a escritora Myriam Fraga14h - Arquitetura carmelitana: Convento de Santa Tereza D’Ávila com o arquiteto Eugênio de Ávila Lins.15h - Pintura religiosa na cidade do Salvador - Bahia: séculos XVII, XVIII e XIX, com o arquiteto Francisco de Assis Portugal Guimarães
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FICHA
Livro: Museu de Arte Sacra – Universidade Federal da BahiaCoordenação: Francisco de Assis Portugal GuimarãesVenda: a partir de junhoPreço: não definido (182 páginas)

ANA CRISTINA PEREIRA, FOLHA DA BAHIA, 29.5.08

domingo, 25 de maio de 2008

O Padre António Vieira e as Mulheres

«Não quis o Autor da natureza que a mulher se contasse entre os bens móveis. O edifício não se move do lugar onde o puseram; e assim deve ser a mulher; tão amiga de estar em casa, como se a mulher e a casa foram a mesma coisa.» Assim acusava o incansável misógino Padre António Vieira, na sua rejubilante, teatral e moralista parenética, deixando-nos para a eternidade registos sobre a condição da mulher no seiscentismo, e que nos instiga à reflexão sobre a psicologia machista, enformada em palavras e actos, que persiste neste século XXI.

Em plenas comemorações dos 400 anos do nascimento do Padre António Vieira, surge-nos um livro soberbo que inquire, minudente, 47 sermões vieirinhos, no encalço do universo feminino dos séculos XVII/XVIII: «O Padre António Vieira e as mulheres» de José Eduardo Franco e Maria Isabel Morán Cabanas, que acaba de arrecadar o Prémio SHIP – Monografia 2008, instituído pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal, com o valor pecuniário de €1.250,00 e um troféu representativo da SHIP. Um justíssimo prémio para um documento essencial da História das Mentalidades acrescido de um incomensurável prazer de leitura.

Bem organizado, permitindo uma consulta eficaz, o livro explana o estudo sobre o mito barroco do universo feminino – mas também uma esplendorosa e vasta incursão pela psicologia do homem de Seiscentos – em 5 grandes capítulos que, por sua vez, se organizam em subcapítulos e estes em alíneas. Ao todo, são 233 páginas de investigação rigorosa e profusamente documentada, marcada pela paixão com que foi feita pelos autores, paixão que contamina o leitor a ponto de a eleger como uma das mais singulares obras que confia o saber com infinito contentamento.

Maria, a redentora e Eva, a pecadora

No mundo androcêntrico de Vieira «a mulher é construída como um ser capaz do melhor e do pior», dizem os autores. Por um lado Maria, a redentora, por quem o jesuíta tem extrema devoção, a utopia, o exemplo espiritual para todas as mulheres; por outro, Eva, «a mãe de todos os viventes», a tentadora, a pecadora, a que desobedeceu a Deus e arrastou consigo o homem, a responsável por ter aberto a «porta do mal na história da humanidade». É nesta dicotomia mariana e eviana, o positivo e o negativo, que Vieira, munindo-se dum «rico e variado elenco de mulheres», aborda o universo feminino, empenhado na persuasão dos ouvintes/leitores, para salgar a terra, eliminando-lhes os vícios.

Na caracterização do universo feminino, anotando-se a segregação da mulher, Vieira aponta-lhes um rol interminável de vícios que, por serem observados nos costumes, mostram-nos a insurreição das mulheres que ousavam certas liberdades numa sociedade que as agrilhoava. Assim surge a acusação ao carácter movediço das mulheres, que Vieira aponta como a sua natureza itinerante que dá azo à tentação, «o gosto de sair», de «andar mais fora do lar do que dentro, encontrando-se aí a causa da sua perdição e da perdição dos homens, pois acerca da mulher cabe dizer que é “tão vagabunda nos olhos como nos passos”».

Defendendo o «recolhimento» ou a «domesticação» da mulher, Vieira apela a que elas sejam submetidas a intensa vigilância, mesmo nas suas idas à igreja por utilizarem o terço «como “terceiro” dos sacrilégios»; intenta-se contra a argúcia feminina que cria «pretextos para sair e enganar os maridos», pois as mulheres são «mestras no pecado da hipocrisia e na procura de artimanhas que sirvam para satisfazer os seus prazeres pessoais», dizendo-o Vieira desta maneira: «Quantas vezes a mulher faz um voto para cumprir na igreja e acaba por encontrar um devoto».

Com a mesma agudeza retórica, o jesuíta mostra-nos possuir uma espantosa sabedoria da psicologia feminina ao apontar muitos outros vícios das mulheres, encontrados no viver quotidiano, como o «apetite desmedido», a ambição, a curiosidade, a vaidade, o egoísmo, entre muitos outros, todos apetites para a leitura desta monografia.

Nota sobre os autores:

José Eduardo Franco é historiador, doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris em "História e Civilização". Tem uma vasta obra de investigação, e é considerado um dos maiores especialistas portugueses sobre a História dos Jesuítas. Actualmente é Presidente da Direcção do Instituto Europeu de Ciências da Cultura P. Manuel Antunes.

Maria Isabel Morán Cabanas é Professora Titular da Faculdade de Filologia da Universidade de Santiago de Compostela, onde lecciona na licenciatura e em cursos de doutoramento e tem inúmeros trabalhos publicados na área da história e crítica da literatura portuguesa e fez a sua tese de doutoramento sobre o "Cancioneiro Geral" de Garcia de Resende. É membro do Graall (Grupo de Análise de Aspectos Linguístico-literários na Lusofonia), da Universidade de Santiago de Compostela.

O Padre António Vieira e as Mulheres – O mito barroco do universo feminino, José Eduardo Franco e Maria Isabel Morán Cabanas; Editorial Campo das Letras, Porto, 2008

Contacto: teresa.kaminhos@gmail.com

In "Kaminhos Magazine" 25.5.08

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Ano Vieirino em Ponta Delgada (2)

A realização de uma sessão solene, o lançamento de um volume de sermões, uma exposição e a inauguração de um novo topónimo na cidade, assinalaram em Ponta Delgada as primeiras comemorações oficiais, nos Açores, do Ano Vieirino.

Segundo o gabinete de imprensa da Câmara Municipal de Ponta Delgada, as comemorações destinadas a assinalar o IV Centenário do Nascimento do Padre António Vieira tiveram lugar na tarde e noite do passado dia 30 de Abril, com a Câmara Municipal de Ponta Delgada a associar-se à Comissão Nacional para as Comemorações do Ano Vieirino, sob o alto patrocínio da Presidência da República e do Patriarcado de Lisboa. Depois da inauguração da placa toponímica “Rua Padre António Vieira”, na freguesia de Arrifes, que registou o nome do Padre Jesuíta nos Açores, o ponto alto das primeiras comemorações deu-se nos Paços do Concelho de Ponta Delgada numa sessão solene em que esteve presente o Bispo de Angra, D. António Sousa Braga.

Na ocasião a presidente da Câmara Municipal, Berta Cabral, congratulou-se com o facto de a autarquia, juntamente com a universidade, terem sido interlocutores desta efeméride nos Açores, uma vez que ela está também a ser assinalada um pouco por todo o país. Berta Cabral afirmou que “Ponta Delgada coloca, de novo, os Açores no mapa da história das ideias e dos eventos culturais, com uma série de iniciativas que irão destacar a vida e a obra do grande pensador português” que foi o Padre António Vieira. Foi em Ponta Delgada que o Padre se inspirou para fazer o sermão a Santa Teresa, mais tarde publicado.

Rui Jorge Cabral in "Açoreano Oriental", 2.5.08