O Funchal associou-se ontem às iniciativas que, um pouco por todo o mundo, estão a assinalar o 4.º centenário do nascimento do Pe. António Vieira. Foi através de um colóquio promovido pela diocese (Departamento de Educação Cristã para Adultos), na APEL, e trouxe até nós dois notáveis conferencistas.
“Nós somos pigmeus, anões aos ombros de gigantes, dizia o Pe. António Vieira. Cada geração nova coloca-se aos ombros da geração anterior,dos gigantes, e aos ombros deles vemos mais longe. Vieira foi um deles”, considera o Professor José Eduardo Franco.
Do Padre António Vieira nunca se sabe tudo, nem muito. A sua grandeza literária já percorreu quatro séculos da História portuguesa e, no entanto, permanece actual.
A sua memória foi ontem recordada no Funchal, num colóquio com dois especialistas: o Prof. José Eduardo Franco e a Prof.ª Carlota Urbano. Enquanto o historiador da cultura falou do “Pe. António Vieira: A palavra e a utopia”, e ainda “Vieira, crítico social: o combate à Inquisição e à escravatura”; a docente da Universidade de Coimbra desenvolveu o tema da “formação do génio de Vieira” no contexto da Companhia de Jesus de que era membro.
À margem da sua conferência, em declarações ao Jornal da Madeira, Carlota Urbano lamentou que as “Humanidades” não sejam hoje em dia tão consideradas como no passado. A falta de interesse ou a eventual “crise não é provocada pelas novas tecnologias”, explicou, “mas por uma certa cegueira, um certo entusiasmo que nos está a fazer perder os horizontes e não há um empenho em alargar a todos os domínios do saber as ciências humanas, como no tempo de António Vieira. Hoje em dia, realmente, está-se a descurar isso e é uma grande perda para as gerações do futuro porque estamos a cortar as raízes da sua própria identidade e da própria construção do futuro; omitindo essas raízes culturais, sobretudo de índole clássica e cristã, retiramos-lhes a memória e não se sabendo realmente quem é dificilmente se sabe aquilo que quer ser”.
Neste caso, o exemplo vem de fora, pois, grandes países desenvolvidos, “como os EUA e a Ingaterra dão importância, valor, às Humanidades e talvez possamos aprender com isso”. Conclusão, “estamos a ser lentos em perceber que precisamos de manter vivo um valioso património e de o comunicar às gerações seguintes”. A mesma opinião foi partilhada pelo Prof. José Eduardo Franco ao JM:“Precisamos de figuras inspiradoras, espécies de faróis que nos guiem para ousar ir mais longe”.Uma nota final: o colóquio sobre o Pe. António Vieira que, à partida, devia suscitar grande interesse por parte das escolas e universidade foi pouco aproveitado; valeu ao escasso público presente “saborear” a cultura de qualidade que não se encontra facilmente.
(Vera Luza no Jornal da Madeira 2.3.08)
Vera Luza
quarta-feira, 5 de março de 2008
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