domingo, 28 de setembro de 2008

“Os Açores na rota do Padre António Vieira” na Universidade

DE DIÁRIO DOS AÇORES, 28.9.08

O IV centenário do nascimento do Padre António Vieira, figura ímpar da cultura portuguesa e brasileira, assinala-se este ano em todo o país, no Brasil e em Itália.

Trazido pelo acaso ou pela mão da Providência, o Padre António Vieira esteve nos Açores alguns meses em 1654, na sequência de uma viagem atribulada que o trazia do Brasil em direcção ao reino. O navio naufragou perto do Corvo, acabando os náufragos por serem salvos por corsários holandeses que, depois da pilhagem, os deixaram na Graciosa. Daí o jesuíta passou com os seus companheiros de infortúnio à Terceira, e depois a S. Miguel.

Com o colóquio Os Açores na Rota do Padre António Vieira, a Universidade dos Açores nos dias 15, 16 e 17 de Outubro associa­-se às comemorações do Ano Vieirino 2008, promovendo o estudo pluridisciplinar de várias dimensões da obra de uma personalidade fundamental da nossa cultura seiscentista.

No dia 15, às 21h00, a sessão de abertura tem lugar num local que se reveste de um intenso significado simbólico: a Igreja do Colégio, onde o Jesuíta subiu ao púlpito e pregou em 1654. Aí, Aníbal Pinto de Castro, Professor catedrático da Universidade de Coimbra, pessoa bem conhecida no nosso meio cultural e autor de estudos fundamentais sobre o jesuíta, proferirá a conferência "Vieira, caminheiro dos mares". Em seguida, enquadrado no esplendor do cenário, o Conservatório Regional de Ponta Delgada apresentará um recital de música barroca.

Nos dias 16 e 17, os trabalhos do Colóquio prosseguirão no Anfiteatro C da Universidade, repartidos em duas sessões diárias com início às 9h30 e 14h30.

Com este colóquio, a Universidade dos Açores integra-se nas comemorações "2008 Ano Vieirino", ao mesmo tempo, esta iniciativa lembra que as ilhas açorianas gozaram o privilégio de escutar a pregação do Jesuíta que, à época, subira já a alguns dos mais prestigiados púlpitos de importantes cidades europeias, e no Brasil pugnava arduamente pela defesa dos índios. E lembra ainda que, embora a inclusão dos Açores, "terra onde os montes são vivos", na rota e na vida do Padre António Vieira não tenha resultado de um projecto voluntário, veio a assumir um significado de que o próprio jesuíta se apercebe e acentua em diversas ocasiões e passos da obra.

Reconhecendo a importância do Colóquio, que promove o estudo pluridisciplinar de várias dimensões da obra de uma personalidade fundamental da nossa cultura, a DRCT apoia a sua realização, enquanto a Secretaria Regional da Educação e Ciência concede creditação como formação contínua específica aos professores do ensino básico e secundário que nele participarem.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

"Línguas e Culturas - Olhares Cruzados"

DE ROSTOS.PT

“Línguas e Culturas – Olhares Cruzados”

No âmbito do Ano Internacional para o Diálogo Intercultural, o Centro de Saberes de Montijo vai dar início a um novo ciclo de conferências intitulado “Línguas e Culturas – Olhares Cruzados”.

A presidente da Câmara Municipal de Montijo, Maria Amélia Antunes, e Inês Duarte, vice-reitora da Universidade de Lisboa, vão estar presentes na abertura do novo ciclo de conferências, no próximo dia 26, sexta-feira, pelas 18h00, na Galeria Municipal.

A primeira conferência “ Quando uma língua vive em diferentes culturas” será presidida por Maria Helena Mira Mateus (...).

Em seguida, “Padre António Vieira: da Missão à Politica” é o tema da conferência proferida por Arnaldo Espírito Santo, professor catedrático da FLUL – Estudos Clássicos. Arnaldo Espírito Santo ocupa, actualmente, os cargos de vice-presidente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e de presidente do Departamento de Estudos Clássicos.

Recorde-se, que o Centro de Saberes do Montijo foi instituído pelo convénio celebrado entre a Câmara Municipal de Montijo e a Universidade de Lisboa em Dezembro de 2004.

23.9.2008

sábado, 13 de setembro de 2008

Vieira e o Brasil

Para comemorar os 400 anos de nascimento do Padre Antonio Vieira, o Pátio do Colégio apresentará nos próximos fins de semana, filmes nacionais que retratam o período em que o jesuíta realizou sua missão. A entrada é grátis.

Neste sábado (13/9) e também no dia 27/9, às 14h o público poderá conferir “A Batalha dos Guararapes, o Príncipe de Nassau”, de Paulo Thiago, traz um Brasil holandês e a poesia de Gregório de Mattos na sociedade baiana de 1601 e leva o público a conhecer um pouco do contexto do século 17 de Vieira.

No dia 20 (sab) e 28/9 (dom), será a vez da diretora Ana Carolina com seu filme “Gregorio de Mattos”.

Serviço
Pátio do Colégio – Sala Manuel de Paiva
Praça Pátio do Colégio, 2
Tel.: 3105-6899
Sab (13/9), às 14h
Grátis
www.pateocollegio.com.br
Metrô Sé

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

António Vieira

António Vieira - Britannica Concise Encyclopedia Date: 2007
(born Feb. 6, 1608, Lisbon, Port.—died July 18, 1697, Salvador, Braz.)

Portuguese-born Brazilian missionary, orator, diplomat, and writer. He was raised in Brazil, where he became a Jesuit priest. His sermons exhorting all races to join in repelling Dutch invaders are considered the first expression of the Brazilian concept of forming a new race of mixed blood. He worked among the Indians and black slaves until 1641, mastering several of their languages. Returning to Portugal, he became an important figure in the court of John IV, where he advocated toleration for Jewish converts to Christianity. He was imprisoned by the Inquisition (1665–67) but returned to Brazil in 1681.Copyright 1994-2007 Encyclopedia Britannica, Inc.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Espectáculo cénico-musical em S. Paulo

De "Globo Livros"

Emocionante. Foi a palavra mais repetida pelos espectadores que amorosamente invadiram os bastidores após a apresentação do espetáculo cênico-musical Vieira 400 anos, promovido pelo SESC-SP com o patrocínio da Editora Globo e do Instituto Camões em comemoração ao quarto centenário de nascimento desse autor que Fernando Pessoa chamou de "o imperador da língua portuguesa".

A comoção causada pelos sermões de Antônio Vieira (1608-1697), porém, não foi superficial ou fácil. A exuberância de sua oratória, ainda hoje capaz de proporcionar saborosos momentos de deleite estético, foram emolduradas pela criatividade de Anna Maria Kieffer, que assina a concepção artística e a direção musical do evento.

Eletroacústica, canto gregoriano, coro de câmara e solistas entoaram composições especiais e peças da tradição religiosa luso-brasileira num impressionante diálogo com trechos dos sermões escolhidos por Joaci Pereira Furtado (dono da idéia que originou o espetáculo), lidos pelo ator português Luís Lima Barreto, do Teatro da Cornucópia, de Lisboa, além da iluminação especificamente desenhada para a ocasião e dois arranjos florais inspirados nas pinturas do holandês Albert Eckout, contemporâneo de Vieira que viveu em Pernambuco.

A capela do beato José de Anchieta, no Pátio do Colégio, marco fundador da cidade de São Paulo, estava lotada naquela tarde de sábado, 2 de agosto de 2008. Repleta de emoção.

Veja as fotos do espectáculo

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Seminário sobre Vieira em Belo Horizonte

Estão abertas as inscrições para o seminário em comemoração ao 4º centenário de nascimento do Pe. Antônio Vieira, realizado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, através do Centro de Estudos Luso-afro-brasileiros (CESPUC) em parceria com o Instituto Camões.

O evento, marcado para os dias 27, 28 e 29 de agosto, vai reunir em Belo Horizonte especialistas na obra do autor, que é considerado pertencente tanto à literatura portuguesa quanto à brasileira.

Além de missionário, Padre Antônio Veira foi orador, diplomata, mestre da prosa portuguesa clássica e teve papel importante na história portuguesa e brasileira.

Seus sermões, cartas e papéis oficiais constituem um valioso índice do clima das opiniões no século 17 no mundo luso-brasileiro.

Entre os palestrantes, vale destacar as presenças de estudiosos como Paulo Borges, da Universidade de Lisboa, José Américo Miranda, da UFMG, João Adolfo Hansen, Adma Muhama e Anita Novinsky, da USP, Alcir Pécora, da Unicamp, Ângela Vaz Leão e Audemaro Taranto Goulart, da PUC Minas.

Haverá também debates, mesas-redondas e sessões de comunicações, além da exibição do filme de Manoel de Oliveira "Palavra e utopia", a ser comentado pelo crítico de cinema Marcelo Castillo Avelar.

O encontro será encerrado com a conferência do escritor Affonso Ávila, autor da publicação "O barroquismo no sermão de Vieira".Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (31) 3319-4368 ou no portal http://www.pucminas.br/

In "Portugal Digital" 4.8.08

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Paulistano vence prémio luso-brasileiro de dramaturgia

In Alagoas em Tempo Real, 28.7.08

A peça The Cachorro Manco show, de autoria do paulistano Fábio Mendes, é a vencedora do 2º Prêmio Luso-Brasileiro de Dramaturgia Antônio José da Silva, concedido pela Funarte e o Instituto Camões, de Portugal. Além de receber um prêmio de 15 mil euros, o autor terá seu texto editado em livro e encenado no Brasil e em Portugal. O português Armando Nascimento Rosa foi distinguido com Menção Honrosa, por unanimidade, pelo texto Visita na prisão.

Fábio Mendes estreou como roteirista com a peça Um homem chamado Lee e participou da equipe de criação da série de TV Alice (HBO). Cachorro Manco é um monólogo cômico, que ele considera uma "mistura de stand up comedy com sermão". Na trama, um cachorro vira-lata luso-brasileiro conta suas histórias, tentando convencer um novo dono a lhe oferecer um prato de comida e uma noite dentro de sua casa.

O cachorro usa de retórica própria e discorre sobre o amor, sobre sua relação com seus antigos donos (Deus), sobre a língua portuguesa e, acima de tudo sobre a relação entre Brasil e Portugal - explica Mendes, que trabalhou como ator com os dramaturgos Antunes Filho e Gerald Thomas, apresentando-se nos Estados Unidos e na Espanha, e como diretor, no curta-metragem Magenta, de sua autoria.

A comissão julgadora do prêmio elegeu o vencedor por meio da análise de oito textos finalistas, quatro portugueses e quatro brasileiros, em videoconferência realizada no dia 18 de julho de 2008.

O júri foi composto por Carmem Cinyra Gadelha (RJ), pesquisadora teatral; Edwaldo Cafezeiro (RJ), professor da Uni-Rio; Fernando Queiroz (DF), PhD em teatro e performance pela Universidade de Londres e professor da Universidade de Brasília; Pedro Mexia, crítico e poeta (Lisboa); Rui Mendes, ator de teatro, cinema e TV (Lisboa); e Sebastiana Fadda, crítica de teatro, tradutora e mestre em Literaturas Românicas pela Universidade de Lisboa.

Os participantes foram convidados a apresentar trabalhos inspirados na obra de Padre Antônio Vieira, em comemoração ao quarto centenário de nascimento do jesuíta. Nascido em Portugal, Vieira morou grande parte de sua vida no Brasil, onde defendeu os direitos dos indígenas e escreveu sermões que se tornaram referência para o barroco brasileiro. O vencedor Fábio Mendes conta que não teve medo de editar os discursos do padre, nem de tirá-los de seu contexto, e acredita que conseguiu dialogar com "esse que é um dos pilares da Língua Portuguesa". "Nossa língua não é morta!", defende Mendes.

O Prêmio Luso-Brasileiro de Dramaturgia Antônio José da Silva, promovido pela Funarte e pelo Instituto Camões, de Portugal, tem o objetivo de incentivar a escrita dramática, estimular o aparecimento de novos escritores de língua portuguesa e reforçar a cooperação entre Brasil e Portugal.

domingo, 20 de julho de 2008

Exposição bibliográfica do padre António Vieira

A Presidência do Governo dos Açores vai assinalar os 400 anos do nascimento do padre António Vieira com a organização de uma exposição bibliográfica e de duas conferências sobre a vida e obra do mais celebrado orador português.

Intitulada “Padre António Vieira: O Eco das Palavras”, a mostra relativa ao autor de uma vasta obra especialmente conhecida pelo vigor e lógica dos seus famosos sermões, vai abrir em Outubro, estando patente na Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada até Fevereiro de 2008.

Em Novembro, Horta e Angra do Heroísmo recebem duas conferências organizadas pela Centro do Conhecimento dos Açores – “António Vieira, uma coincidência oppositorum da sua vida e da sua escrita” (Aníbal Pinto Castro) e “Vieira e Pessoa” (Yvette Centeno), a 12 e 13, respectivamente.

O padre António Vieira nasceu em Lisboa em 1608 e morreu na Baía em 1697, desenvolvendo uma intensa e polémica intervenção no processo de colonização do Brasil.

JORNAL DIÁRIO 20.7.08

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Morte de António Vieira

No dia 18 de Julho de 1697, morreu o padre António Vieira.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Vida de Vieira representada nas Ruínas do Carmo

Os momentos mais importantes da vida do Padre António Vieira (1608-1697) vão ser representados nas Ruínas do Carmo, em Lisboa, no espectáculo "Vieira - O Céu na Terra", que se estreia terça-feira.

"Vieira - O Céu na Terra", da autoria de Miguel Real e Filomena Oliveira, é uma produção do Teatro Nacional D. Maria II inserida nas comemorações do IV centenário do nascimento do religioso e famoso pregador português.

"Em Lisboa, na corte de D. João IV, no Brasil entre os colonos ou entre os índios do sertão, revela-se o homem de plurais actividades - missionário, diplomata, político, orador, profeta, escritor, nacionalista", refere a sinopse de "Vieira - O Céu na Terra".

"É um homem que morre fracassado (as suas profecias não se cumpriram), mas feliz, cheio de esperança. Era um homem de mil projectos, de mil actividades", acrescentou, em declarações à Lusa, o autor do texto.

António Vieira nasceu em Lisboa e aos 6 anos foi viver para o Brasil porque o pai foi destacado para o cargo de escrivão, em Salvador.

Estudou no Colégio dos Jesuítas e juntou-se à Companhia de Jesus, tendo ao longo da sua vida defendido várias causas humanitárias e chegado a ser preso por ordem do Santo Ofício.

A peça "vai fixar três aspectos da obra do padre António Vieira: a sua sede de justiça social - com a defesa dos judeus perseguidos pela Inquisição e dos índios e escravos no Brasil - o aspecto profético (do V Império como união dos povos) e a eloquência da sua oratória", disse Miguel Real.
Filomena Oliveira, o outro elemento desta dupla de autores, trabalhou a encenação e desde logo destacou o "espaço fortíssimo" sugerido pelo director do D. Maria II, Carlos Fragateiro, para este espectáculo - as Ruínas do Carmo.

"A nave central é utilizada para a representação e o público fica lateralmente", explicou a encenadora, acrescentando que se pretende que os espectadores se sintam transpostos para ambientes do século XVII, seja uma igreja de Lisboa ou o sertão brasileiro.
A mudança é feita sobretudo através dos jogos de luz, das cores e das formas, que permitem "uma constante transformação das Ruínas do Carmo", apontou Andrzej Kowalski, responsável pelo espaço cénico e imagem.

Num elenco com 15 actores, a figura do Padre António Vieira será representada por José Henrique Neto enquanto João Lagarto faz de inquisidor.

O espectáculo será apresentado até 16 de Agosto e o Teatro Nacional D. Maria II vai depois apresentá-lo no Brasil, entre Novembro e Dezembro, no âmbito das comemorações dos 200 anos da chegada da família real, disse à Lusa Carlos Fragateiro.

AGÊNCIA LUSA 17.7.08

domingo, 13 de julho de 2008

Vieira na obra de Inês Pedrosa


Em seu primeiro romance ambientado no Brasil, A Eternidade e o Desejo, (Alfaguara, 185 págs., R$ 29,90), lançado na 6ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), a escritora portuguesa Inês Pedrosa presta sua homenagem aos 400 anos do padre Antônio Vieira ao contar o drama de uma historiadora e professora universitária portuguesa. Clara aceita viajar ao Brasil acompanhada de um amigo, Sebastião, e refaz os passos do visionário jesuíta, relembrando uma antiga paixão que a levou à cegueira ao tentar defender um professor da fúria de um marido traído, que atirou em seu amado. Inês, a exemplo de Saramago, usa a cegueira de Clara como metáfora da dificuldade de percepção do real. A perda da visão levaria a uma reflexão sobre as palavras de Vieira a respeito do sentido da eternidade como sinônimo do desejo, tema da conversa de Inês Pedrosa com o Estado, publicada a seguir.
O uso dos sermões de Vieira quase como uma ilustração em A Eternidade e o Desejo parece buscar obsessivamente uma correspondência entre a palavra e a imagem. Você escolheu os sermões pelas imagens que evocam? Era esse seu propósito?
Justamente. Quando li os sermões do padre, não percebi que ele também falava do desejo. Interessei-me no contraste desses sermões com a época contemporânea porque Vieira foi um visionário e perguntei-me como não se conhece nenhuma relação carnal, íntima, sua, sendo ele um homem tão sanguíneo, visceral, pouco identificado com um temperamento contemplativo. O sermão da Nossa Senhora do Ó me deu a resposta para isso: a eternidade e o desejo são a mesma coisa. É uma frase completamente contemporânea, muito pouco barroca, sobretudo considerando que é do século 17. Esse sermão fala dos desejos de uma grávida, mas, como em todos os sermões, também de uma pequena ignomínia terrena que depois extravasa. Cada ignomínia é a ignomínia, cada desejo é desejo. Foi por isso que me apeguei a essa frase que une a eternidade ao desejo.
Vieira também fala dessa contradição que é nossa aspiração pela eternidade e o desejo de que as coisas acabem. Ou temos a consciência de sermos mortais sem desejarmos a eternidade, sendo infelizes, ou o contrário, o que traz a angústia da infelicidade eterna.
Sim. Tive uma educação católica e ainda me lembro dos livros de catequese com imagens do inferno em chamas e demônios picando pessoas de rostos desfigurados, contrastando com a imagem do paraíso, onde tudo eram flores, pessoas encantadas. Eu, que nunca me acostumei a ficar quieta, estava lá a contemplar, morrendo de tédio. Lembro que queria ir para o purgatório, onde, afinal, podia acontecer alguma coisa. Agora, a pequena eternidade que temos em vida basta-me. Agustina Bessa-Luís me confidenciou que não se apega demasiadamente nem às pessoas nem aos gatos. Tinha um gato que ela adorava e, durante uma viagem, ele, inquieto, deixou Agustina irritada. Ela, então, pediu ao marido que parasse o carro e colocou o gato para fora, apesar de todo apego que sentia por ele. Não tenho tantos anos quanto Agustina, mas entro numa fase da vida em que já perdi muitos amigos e vejo-me como o Orlando de Virginia Woolf, viajando pelos séculos sem criar empatia com ninguém, o que tampouco é fascinante. Acho que a eternidade possível é esta de não perder o desejo, o que é muito difícil. No fundo, a eternidade é a manutenção do deslumbramento. Infelizmente, vivemos num mundo globalizado em que se imagina que nada mais possa surpreender.
O padre Vieira é um personagem controvertido também por suas idéias e posições políticas, que o levaram a ser perseguido pela Inquisição. Você acabou de destacar sua vocação visionária, mas é preciso lembrar que seu Quinto Império pode também ser lido como um nostálgico sebastianismo. Você, que é uma mulher engajada, que defende o aborto, o casamento entre homossexuais e apoiou o candidato Manuel Alegre nas últimas eleições, como vê esse lado político de Vieira?
Acho que, se Vieira fosse vivo, ele certamente teria um blog. Ele é mesmo um personagem polêmico. Participei recentemente de um seminário sobre o padre e houve protestos de acadêmicos, escandalizados com as homenagens aos 400 anos de um homem que eles consideram um escravagista, apesar de ter lutado pela independência dos índios. É curioso: ele tinha um lado idealista e outro muito pragmático. Criou a primeira companhia de comércio com o Brasil numa época em que não era possível fazer a exploração econômica do país sem a escravatura. Pode-se criticá-lo, mas ele foi, decididamente, um visionário, tendo, por exemplo, sido um extremo defensor dos judeus.
Voltando ao romance, não haveria uma tendência na literatura portuguesa de abusar da metáfora, o que talvez seja uma herança barroca? Digo isso por conta da cegueira da principal personagem, Clara, cujo nome, aliás, já traduz uma intenção alegórica. Lembro que também Saramago usa igualmente a deficiência visual em Ensaio Sobre a Cegueira como sinônimo de falta de percepção do real.
Acho que talvez tenha mesmo a ver com a tradição barroca. Fala-se muito da poesia, mas acredito que nossas primeiras peças literárias sejam as crônicas de viagem de Fernão Lopes, que tinha uma grande inclinação para a metáfora. O barroco tem a ver com o absolutismo real e, portanto, com um certo medo que atravessou a história de Portugal, um respeito atávico pelo poder, um hábito de transformar as palavras de modo a não ser prejudicado por elas. Talvez seja por isso que me sinto tão tocada pela literatura brasileira. Em Portugal, tratar de sexo pode ser arrepiante, sobretudo se for uma escritora mulher. Maria Teresa Horta, uma poeta cuja obra é centrada na experiência erótica, nunca é convidada para nenhum congresso ou encontro. O ato sexual, de forma geral, em Portugal, nunca é descrito sem recorrer a metáforas. Por outro lado, acho que a metáfora ainda é uma das grandes forças expressivas da língua portuguesa.
Sei que você é uma opositora do acordo ortográfico, por considerar que ele provoca, na verdade, um desacordo, criando uma outra língua. Noto que os escritores portugueses são mais lidos no Brasil que os brasileiros em Portugal. Não há um desequilíbrio aí?
Só para falar de um escritor de quem gosto bastante, Bernardo Carvalho tem sido publicado por várias editoras portuguesas e até o Luiz Ruffato, que tem uma escrita experimental, já foi publicado. Outros grandes autores como Milton Hatoum e Raduan Nassar têm críticas boas nos jornais, mas a crítica já não tem poder, se é que algum dia teve. Digo que, se o dinheiro investido no acordo ortográfico fosse gasto com companhias aéreas para levar os autores brasileiros a Portugal, estou convencida de que seria melhor. Isso vai mudar. Aqui, na Flip, estão dois grandes editores portugueses que não vieram acompanhar seus queridos escritores, mas para farejar autores para futura publicação em coleções dedicadas aos brasileiros.
Você tem outro livro que se passa no Brasil, ainda inédito por aqui, também sobre o padre Vieira. É o livro que relata sua excursão pelo Brasil atrás da trajetória do padre, não?
Sim, chama-se No Coração do Brasil. É o relato dessa viagem que fiz em 2005. Não tinha interesse em produzir um livro sobre a excursão, então resolvi escrever seis cartas de viagem para cada um dos lugares que visitei no Brasil, revelando como os vejo agora e como deveriam ser no tempo dele. Fiquei muito feliz com os comentários de que ele parece escrito no tom do padre Vieira. Portanto, ficou um bocadinho como o século 17.
E, dos autores contemporâneos, quem você considera que levou adiante a mensagem do padre?
Nunca pensei nisso, mas acho que foi Fernando Pessoa, que chamava o padre de ''o imperador da língua''. Manuel Alegre seria também seu herdeiro, mas é um poeta diminuído pela crítica por não estar numa torre de marfim, idéia também que o Lobo Antunes vende, como se ao escritor fosse permitido escrever mas não participar da sociedade. Eu também tenho sido muito criticada por minha atuação política. Acusam-me de autopromoção. Pensando fora de Portugal, lembro do francês Paul Claudel e do Fernando Savater, até porque é alto, barbudo, corajoso e vai fundo em suas críticas que colocam a si e a seus filhos sob ameaça.
Entrevista de António Gonçalves Filho, no Estado de S. Paulo, 13.7.08

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Vieira na "Encyclopaedia Britannica"

António Vieira - Portuguese author and diplomat

born Feb. 6, 1608, Lisbon, Port. died July 18, 1697, Salvador, Braz.

Jesuit missionary, orator, diplomat, and master of classical Portuguese prose who played an active role in both Portuguese and Brazilian history. His sermons, letters, and state papers provide a valuable index to the climate of opinion of the 17th-century world.

Vieira went to Brazil with his parents as a child of six. Educated at the Jesuits’ college in Bahia, he joined the Society of Jesus in 1623 and was ordained in 1635. He soon became the most popular and influential preacher in the colony, and his sermons exhorting the various races to join the Portuguese in arms against the Dutch invaders of Brazil (1630–54) are considered the first expression of the Brazilian national mystique of forming a new race of mixed bloods. In addition to the Tupí-Guaraní tongue, the lingua franca of the Brazilian littoral, Vieira learned a number of local Amazon dialects and the Kimbundu language of the black slaves who had been brought to Brazil from Angola.

Vieira worked among the Indians and black slaves until 1641, when he went with a mission to Portugal to congratulate King John IV on his accession. The king soon fell under the spell of Vieira’s self-assured and magnetic personality and came to regard the tall, lean, dynamic Jesuit as “the greatest man in the world.” The king made him tutor to the infante, court preacher, and a member of the royal council. Vieira’s devotion to the king was such that after John’s death (1656) he formed a fixed idea that the king would return to inaugurate a prophesied golden age of peace and prosperity.

Between 1646 and 1650 Vieira was engaged in diplomatic missions to Holland, France, and Italy. But by his outspoken advocacy for toleration for Jewish converts to Between 1646 and 1650 Vieira was engaged in diplomatic missions to Holland, France, and Italy. But by his outspoken advocacy for toleration for Jewish converts to Christianity in Portugal and because of his willingness to cede Pernambuco to the Dutch as the price of peace, he made enemies in Portugal. By 1652 it had become prudent for him to leave the country for Brazil. His denunciation of slave-owning there resulted in his return to Lisbon in 1654. During his stay in Portugal, he secured decrees protecting the Brazilian Indians from enslavement and creating a monopoly for the Jesuits in the government of the Indians, and he returned triumphantly in 1655. He resumed his apostolic mission in Maranhão and on the Amazon delta, where for six years he traveled widely and laboured energetically before being forced back to Lisbon in 1661. For prophesying the return of John he was condemned by the Inquisition and imprisoned (1665–67).

On his release (1668) he went to Rome, where he succeeded in securing at least temporary toleration for the converted Jews. He remained there for six years, becoming confessor to Queen Christina of Sweden and a member of her literary academy. In 1681 he returned to Bahia, where he remained, a fighter for the freedom of the Indians, until his death at 89.

Vieira is claimed as a literary master by both the Portuguese and the Brazilians. Though his prose style, in its ornateness, Latinisms, and elaborate conceits, is a product of the Old World, his works are of the New World in their emotional freedom, boldness of thought, and advanced attitude of racial tolerance.

Assorted References
Brazilian history ( in Brazil: Royal governors, Jesuits, and slaves ) Portuguese literature ( in Portuguese literature: The 17th century and the Baroque )

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Sermão de Vieira por Luis Miguel Cintra


No sábado, 12 de Julho, pelas 18h00, terá lugar o espectáculo "Padre António Vieira - Sermão de Quarta-feira de Cinza", com leitura por Luís Miguel Cintra, nos Claustros do Museu Alberto Sampaio, em Guimarães, com entrada gratuita.

1672 - Em Roma, na Igreja de S. António dos Portugueses, o Padre António Vieira faz uma profunda reflexão sobre um dos temas mais frequentes da arte barroca: a morte, a efemeridade da vida e as vaidades humanas, como glosa da citação bíblica da Liturgia de quarta-feira de cinzas, na cerimónia de imposição das cinzas: Memento Homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris. (Lembra-te, ó homem de que és pó e ao pó hás-de voltar.) A própria Igreja não escapa à advertência de Vieira: “… homenzinhos miseráveis, loucos, insensatos, não vedes que sois mortais? Não vedes que haveis de acabar amanhã? Não vedes que vos hão-de meter debaixo de uma sepultura, e que de tudo quanto andais afanado, e adquirindo, não haveis de lograr mais que sete pés de terra?” Um dos mais belos e terríveis sermões do Padre António Vieira, um dos melhores exemplos da grande arte oratória portuguesa do século XVII.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Inês Pedrosa lança no Brasil obra com referências de António Vieira

A escritora Inês Pedrosa lança a 8 de Julho no Rio de Janeiro o seu romance "A Eternidade e o Desejo", com a chancela da editora espanhola Alfaguara, fortemente implantada na América Latina, anunciaram hoje as Publicações D.Quixote

O poeta, ensaísta e letrista António Cícero apresentará o livro na Casa do Saber, numa sessão que contará com a presença da autora, convidada a participar na VI Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), que decorre entre quarta-feira e domingo.

A Eternidade e o Desejo, editado em Novembro passado em Portugal pela Dom Quixote e que vai já na terceira edição, é o primeiro romance de Inês Pedrosa cuja acção se desenrola no Brasil.

Ao longo da obra, a escritora revisita os lugares percorridos pelo Padre António Vieira, pela mão das personagens Clara e Sebastião - uma ideia surgida durante uma viagem que fez ao Brasil em 2005, a convite do Centro Nacional de Cultura.
Em "O SOL", 1.7.08

sexta-feira, 27 de junho de 2008

TV SEnado do Brasil apresenta programa sobre Vieira

A TV Senado apresenta, neste final de semana, uma reportagem especial em homenagem aos 400 anos de nascimento do Padre Antônio Vieira. A produção viajou até São Luís (MA) e Salvador (BA) para reconstituir a trajetória do padre jesuíta português, que se tornou conhecido pela defesa dos direitos humanos dos povos indígenas e judeus e pela luta pela abolição da escravatura. Além do diretor do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp (Universidade de Campinas), Alcir Pécora, e do antropólogo da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Luiz Felipe Baêta Neves, o ator Pedro Paulo Rangel, que interpretou Vieira no teatro, também participa da reportagem, que vai ao ar às 15h30 deste sábado (28) e às 15h30 e 21h deste domingo (29).

terça-feira, 3 de junho de 2008

Entrevista ao Pe. Geraldo Antônio Coelho de Almeida, S.J.

(Entrevista por Alexandre Ribeiro em "Zenit - o mundo visto de Roma", 3.6.08, Permalink: http://www.zenit.org/article-18629?l=portuguese)



Em momentos em que se celebra em Portugal e no Brasil o IV centenário de nascimento do Pe. Antônio Vieira, considerado por Fernando Pessoa o «imperador da língua portuguesa», Zenit conversou com um jesuíta sobre o legado do pregador e missionário.


Quem concede a entrevista é o padre Geraldo Antônio Coelho de Almeida, S.J., reitor do Pontifício Colégio Pio Brasileiro em Roma, que foi diretor do Colégio Antônio Vieira em Salvador (Bahia, Brasil).


--Por que não tem se falado tanto do quarto centenário do nascimento do Pe. Antônio Vieira?


--Pe. Geraldo Coelho de Almeida: Não se fala muito do quarto centenário de nascimento de Vieira porque onze anos atrás já se celebrou um centenário, o terceiro de sua morte. Vieira teve uma vida longa. Diante disso, onze anos depois já estamos celebrando o quarto centenário do seu nascimento. A probabilidade maior é que ele tenha nascido no dia 6 de janeiro de 1608 e morrido no dia 18 de julho de 1697. Portanto, viveu 89 anos e alguns meses. Vida longa para a época.


--Como foi a vida de Antônio Vieira?


--Pe. Geraldo Coelho de Almeida: Ele teve uma vida muito movimentada. Nasceu em Lisboa e ainda criança veio para o Brasil. A família passou pelo Rio de Janeiro, depois se fixou em Salvador. E ali ele fez os estudos primários e secundários. Com 15 anos, ele já ingressava na Companhia de Jesus. Depois do noviciado, fez os outros estudos, de humanidades, filosofia e teologia. Tudo no Brasil. Tudo que Antônio Vieira estudou regularmente, digo regularmente porque ele era um aficcionado por biblioteca, onde encontrava livros ia lendo. Evidentemente, quando ele foi para Portugal, depois para Itália, vasculhou tudo quanto era biblioteca que havia naquele tempo. Os livros eram um produto muito raro e caro. Mas havia bibliotecas selecionadas. E certamente por conta própria, ele estudou a vida toda. Porém, todos os estudos regulares foram feitos no Brasil. Ele chegou aqui com cerca de 7 ou 8 anos e estudou no colégio da Companhia de Jesus que havia em Salvador. Era o principal dos colégios no Brasil naquela época. Entrou no noviciado lá mesmo.


--Como se manifestou seu talento como escritor?


--Pe. Geraldo Coelho de Almeida: Durante a invasão holandesa em 1624-1625, ele foi encarregado de escrever um relatório sobre a invasão, e o fez num estilo caprichado, em latim, com muitos pormenores. Esse documento atualmente é considerado um dos mais importantes para se compreender o que aconteceu durante aquela invasão a Salvador. Portanto, desde jovenzinho, ele já se revelava uma pessoa com grandes dotes literários e com grande inteligência.
Existe uma lenda que diz que ele tinha grande dificuldade para argumentar, e que ele chegava à aula e, na hora de argumentar, não sabia. Então todo dia ele passava pela igreja do colégio e, diante da estátua de Nossa Senhora das Maravilhas que existe lá ainda hoje, ele fazia uma oração pedindo a graça de compreender as coisas com mais rapidez, mais inteligência. Um belo dia teria dado um estalo na sua cabeça e, a partir daquele instante, ele chegou à aula e pediu para argumentar. Para surpresa de todos, foi um assombro. Isso se conta na biografia dele. Mas ninguém sabe se é uma lenda.


Pode até ter sido que um dia ele tenha sofrido algo especial e a partir desse momento tenha dado uma guinada na sua vida em termos de compreensão das coisas. O certo é que desde cedo se manifestou seu talento. E há provas disso, como o documento que eu citei, que data do noviciado.


--E a sua atividade como orador?


--Pe. Geraldo Coelho de Almeida: Antônio Vieira, quando se ordenou, já tinha se revelado um grande orador. Ele já tinha surpreendido as pessoas em Salvador com a sua oratória. Em Portugal, naquele tempo, assumiu o trono o duque de Bragança, que passou a se chamar Dom João IV, terminando assim a dominação espanhola, que tinha começado em 1580, e seguiu até 1640. Então Dom João IV assume em 1640.


Para prestar a homenagem da colônia, foi criada uma comissão, e Vieira foi incorporado no grupo. E quando chegou lá, ele impressionou tão bem o rei que a partir dali assumiu importante papel junto da nova etapa do reino de Portugal, depois daquele eclipse de 60 anos da dominação espanhola. Durante o período em que ele esteve assessorando o rei, ele recebia missões cada vez mais empenhativas. O rei o nomeou em dado momento embaixador plenipotenciário junto a várias cortes da Europa, com a função de apresentar o novo governo de Portugal. Havia muita dificuldade de aceitação do novo governo, porque a Espanha era muito poderosa, e vários países não queriam criar problemas com ela. Antônio Vieira tinha como missão ir à França, aos Países Baixos, à Itália, para apresentar o rei de Portugal. Não podemos dizer que ele teve sucesso, porque não tinha nenhum preparo diplomático específico. Baseava-se só em sua capacidade dialética e na sua retórica, mas isso não bastava. Como sacerdote, ele não tinha experiência nessa área. Diante disso, algumas missões não foram bem sucedidas. Mas, de qualquer maneira, ele teve esse papel passando por essas várias cortes.


--Depois disso ele voltou ao Brasil?


--Pe. Geraldo Coelho de Almeida: Mais tarde em Portugal ele consegue vir para o Maranhão (Brasil). Ele começou a missão no Maranhão. A missão já estava engatinhando, no lugar que hoje não é o Maranhão apenas, pois chamava-se Maranhão e Grão-Pará. Era o norte do Brasil, que compreendia os estados do Maranhão, Pará e por extensão também a Amazônia, cujos contornos não estavam ainda bem definidos. Então ele vai para o Maranhão. É a alma da missão dos jesuítas no Maranhão. Ali ele escreve cartas, documentos. O regulamento das missões que é atribuído a ele. O certo é que ele encontra também muita inimizade lá, porque os colonos não aceitavam interferência. Ele ficou do lado dos índios e enviava para Portugal cartas narrando os maus-tratos dos índios, a não observação das normas reais que existiam. Três vezes ele foi expulso de lá e também os jesuítas. Vieira foi até preso nesse tempo tumultuado. Finalmente, ele é mandado de volta para Portugal.


Nessa nova fase, o rei morre. A rainha é a regente, mas as coisas não estão mais como antes. Nesse tempo, os seus inimigos o acusam de várias coisas, de favorecer os judeus, quem ele realmente sempre defendeu. Pedia que Portugal desse um tratamento diferente aos judeus, que eram perseguidos em toda península ibérica, pois os judeus podiam com o seu dinheiro ajudar na retomada do reino no vigor anterior à dominação espanhola. Baseado nas posições de Vieira, que foram mal interpretadas, seus inimigos montaram um processo e o acusaram perante o Santo Ofício de Portugal. Cada país tinha o seu tribunal do Santo Ofício, que muitas vezes era dominado pelos governantes locais, só que a culpa viria depois a cair sempre sobre a Igreja. Às vezes, a Igreja era alheia à composição daquele tribunal, que era instrumentalizado pelo Estado. No caso em questão, fizeram um processo. O próprio Vieira se defende das acusações, e se defende muito bem. Nessa época, sua fama de grande orador já extrapolava. Naquele tempo que ele veio para o Brasil, ele também brilhou. Há muitos sermões famosos de Vieira que foram feitos no Maranhão, no Pará. O certo é que depois do processo ele foi condenado, mas uma condenação que não era plena. Ele foi proibido de fazer certas coisas, mas não ficou na cadeia. Então ele conseguiu se livrar do processo, porém tinha penas, como, por exemplo, a de não poder pregar. Os jesuítas portugueses, vendo que não havia tanto espaço para Vieira em Portugal, decidiram que era melhor afastá-lo de lá. E arranjaram um motivo. Tinha havido o martírio dos 40 mártires do Brasil, mortos por protestantes franceses em 1570 nas Ilhas Canárias enquanto se dirigiam para o Brasil, e estava em andamento o processo de beatificação desses mártires. Então deram a ele a incumbência de ser o postulador da causa e o enviaram para Roma.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Viagem ao "Brasil do Padre António Vieira"

No IV Centenário do nascimento do padre António Vieira (1608 -2008), a revista "Amar & Servir" promove uma viagem ao Brasil

Conhecer a obra do missionário, escritor e pregador é o objectivo desta uma viagem ao “Brasil do padre António Vieira”, que decorre de 27 de Setembro a 12 de Outubro de 2008. São 15 dias de viagem histórica, cultural, missionária com passagem por locais relevantes na vida e obra do missionário.

São Luís do Maranhão, onde António Vieira pregou o sermão de Santo António aos peixes, em 1654, é um desses pontos de paragem numa deslocação que inclui a visita ao único deserto do mundo com milhares de lagoas. Rio de Janeiro, São Salvador da Baía, local onde António Vieira viveu a infância e foi ordenado sacerdote em 1635 faz parte deste percurso. Hoje os Jesuítas dirigem, em Salvador, o Colégio Padre António Vieira, com 2.500 alunos e o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, o primeiro de “Fátima” no mundo.

Acompanha a viagem o padre João Caniço, jesuíta. A viagem tem um custo de 3.750 euros em quarto duplo. Mais informações e inscrições, pelo telefone 217 541 620 ou e-mail.

FÁTIMA MISSIONÁRIA 29.5.08

"Passeio pelo Sagrado"

Um dos dados curiosos em torno da biografia do padre Antonio Vieira é a descrição do famoso “estalo” que o transformou no maior orador sacro da língua portuguesa. Segundo consta, o fato se deu diante de Nossa Senhora das Maravilhas, no Colégio dos Jesuítas da Bahia. Trata-se de uma imagem portuguesa em madeira, que chegou ao Brasil no século XVI, trazida pelo bispo D. Pero Sardinha, e aqui recebeu revestimento em prata. Preservada de várias intempéries – como a invasão holandesa de 1624 –, a peça é uma das relíquias do Museu de Arte Sacra da Ufba, o MAS.

Devido a seu valor cultural, a imagem foi escolhida para estampar a capa do livro que marca o início das comemorações dos 50 anos da casa. O aniversário ainda é em agosto de 2009, mas o MAS quer realizar uma série de atividades para dinamizar sua atuação. “Hoje em dia, a visão de museu abrange o compromisso com o social e com a divulgação da cultura. Eles são espaços onde se reverencia o passado para se projetar o futuro”, afirma o arquiteto Francisco Portugal Guimarães, diretor do MAS desde 1998.

Nesse contexto, insere-se o lançamento da publicação luxuosa, bilíngüe (português-inglês), que foi patrocinada pela Petrobras via Lei Rouanet. Na primeira parte, ela traz informações e fotos sobre a Igreja e o Convento de Santa Teresa D’Avila, o belo e imponente conjunto arquitetônico onde o MAS está instalado e que por si só já justifica um passeio por lá. Fundado pela Ordem dos Carmelitas Descalços e tombado desde 1938 pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), destaca Franscisco, é um dos mais importantes exemplares da arquitetura colonial do século XVII. O imóvel, pertencente à Arquidiocese de Salvador, foi reformado pela Ufba para ser o seu primeiro museu, numa das muitas ações do visionário reitor Edgard Santos.
Depois de apresentar a moradia, o livro traz um apanhado da coleção do MAS, que tem um total de cinco mil peças, pertencentes à própria universidade, à arquidiocese ou a instituições como o Mosteiro de São Bento, Igreja Belém de Cachoeira e Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, emprestadas em regime de comodato. Os exemplares selecionados para o livro foram agrupados em quatro seções: Imaginária, Marfim, Ourivesaria e Pintura. Cada uma delas vem acompanhada de um texto de um especialista sobre o tema.

Entre as preciosidades do acervo, por exemplo, na parte Imaginária, uma Nossa Senhora de Guadalupe, do século XVI, que representa a produção espanhola do período, e as peças em terracota do mestre Frei Agostinho da Piedade – que veio pequeno para Salvador e aqui produziu sua obra, no século XVII. Já na Ourivesaria, o diretor aponta o impressionante conjunto do altar-mor, todo em prata, da antiga Igreja da Sé, incorporado ao altar da Igreja de Santa Tereza. Hoje, um ciclo de palestras desdobra o conteúdo da publicação, com a presença da historiadora Maria Helena Flexor, da museóloga Mercedes Rosa, da escritora Myriam Fraga e dos arquitetos Eugênio de Ávila Lins e Francisco de Assis Portugal Guimarães, que assinam os textos do livro. O evento é gratuito e as inscrições são feitas na hora. O livro será vendido, a partir do próximo mês, na sede do museu, na Rua do Sodré, no centro da cidade, mas ainda não tem preço definido.

***
Palestras de hoje
9h - Imaginária: aspectos de sua representação, com a historiadora Maria Helena Flexor10h - Ourivesaria sacra, com a museóloga Mercedes Rosa11h - Marfim: a riqueza que veio do Oriente, com a escritora Myriam Fraga14h - Arquitetura carmelitana: Convento de Santa Tereza D’Ávila com o arquiteto Eugênio de Ávila Lins.15h - Pintura religiosa na cidade do Salvador - Bahia: séculos XVII, XVIII e XIX, com o arquiteto Francisco de Assis Portugal Guimarães
***
FICHA
Livro: Museu de Arte Sacra – Universidade Federal da BahiaCoordenação: Francisco de Assis Portugal GuimarãesVenda: a partir de junhoPreço: não definido (182 páginas)

ANA CRISTINA PEREIRA, FOLHA DA BAHIA, 29.5.08

domingo, 25 de maio de 2008

O Padre António Vieira e as Mulheres

«Não quis o Autor da natureza que a mulher se contasse entre os bens móveis. O edifício não se move do lugar onde o puseram; e assim deve ser a mulher; tão amiga de estar em casa, como se a mulher e a casa foram a mesma coisa.» Assim acusava o incansável misógino Padre António Vieira, na sua rejubilante, teatral e moralista parenética, deixando-nos para a eternidade registos sobre a condição da mulher no seiscentismo, e que nos instiga à reflexão sobre a psicologia machista, enformada em palavras e actos, que persiste neste século XXI.

Em plenas comemorações dos 400 anos do nascimento do Padre António Vieira, surge-nos um livro soberbo que inquire, minudente, 47 sermões vieirinhos, no encalço do universo feminino dos séculos XVII/XVIII: «O Padre António Vieira e as mulheres» de José Eduardo Franco e Maria Isabel Morán Cabanas, que acaba de arrecadar o Prémio SHIP – Monografia 2008, instituído pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal, com o valor pecuniário de €1.250,00 e um troféu representativo da SHIP. Um justíssimo prémio para um documento essencial da História das Mentalidades acrescido de um incomensurável prazer de leitura.

Bem organizado, permitindo uma consulta eficaz, o livro explana o estudo sobre o mito barroco do universo feminino – mas também uma esplendorosa e vasta incursão pela psicologia do homem de Seiscentos – em 5 grandes capítulos que, por sua vez, se organizam em subcapítulos e estes em alíneas. Ao todo, são 233 páginas de investigação rigorosa e profusamente documentada, marcada pela paixão com que foi feita pelos autores, paixão que contamina o leitor a ponto de a eleger como uma das mais singulares obras que confia o saber com infinito contentamento.

Maria, a redentora e Eva, a pecadora

No mundo androcêntrico de Vieira «a mulher é construída como um ser capaz do melhor e do pior», dizem os autores. Por um lado Maria, a redentora, por quem o jesuíta tem extrema devoção, a utopia, o exemplo espiritual para todas as mulheres; por outro, Eva, «a mãe de todos os viventes», a tentadora, a pecadora, a que desobedeceu a Deus e arrastou consigo o homem, a responsável por ter aberto a «porta do mal na história da humanidade». É nesta dicotomia mariana e eviana, o positivo e o negativo, que Vieira, munindo-se dum «rico e variado elenco de mulheres», aborda o universo feminino, empenhado na persuasão dos ouvintes/leitores, para salgar a terra, eliminando-lhes os vícios.

Na caracterização do universo feminino, anotando-se a segregação da mulher, Vieira aponta-lhes um rol interminável de vícios que, por serem observados nos costumes, mostram-nos a insurreição das mulheres que ousavam certas liberdades numa sociedade que as agrilhoava. Assim surge a acusação ao carácter movediço das mulheres, que Vieira aponta como a sua natureza itinerante que dá azo à tentação, «o gosto de sair», de «andar mais fora do lar do que dentro, encontrando-se aí a causa da sua perdição e da perdição dos homens, pois acerca da mulher cabe dizer que é “tão vagabunda nos olhos como nos passos”».

Defendendo o «recolhimento» ou a «domesticação» da mulher, Vieira apela a que elas sejam submetidas a intensa vigilância, mesmo nas suas idas à igreja por utilizarem o terço «como “terceiro” dos sacrilégios»; intenta-se contra a argúcia feminina que cria «pretextos para sair e enganar os maridos», pois as mulheres são «mestras no pecado da hipocrisia e na procura de artimanhas que sirvam para satisfazer os seus prazeres pessoais», dizendo-o Vieira desta maneira: «Quantas vezes a mulher faz um voto para cumprir na igreja e acaba por encontrar um devoto».

Com a mesma agudeza retórica, o jesuíta mostra-nos possuir uma espantosa sabedoria da psicologia feminina ao apontar muitos outros vícios das mulheres, encontrados no viver quotidiano, como o «apetite desmedido», a ambição, a curiosidade, a vaidade, o egoísmo, entre muitos outros, todos apetites para a leitura desta monografia.

Nota sobre os autores:

José Eduardo Franco é historiador, doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris em "História e Civilização". Tem uma vasta obra de investigação, e é considerado um dos maiores especialistas portugueses sobre a História dos Jesuítas. Actualmente é Presidente da Direcção do Instituto Europeu de Ciências da Cultura P. Manuel Antunes.

Maria Isabel Morán Cabanas é Professora Titular da Faculdade de Filologia da Universidade de Santiago de Compostela, onde lecciona na licenciatura e em cursos de doutoramento e tem inúmeros trabalhos publicados na área da história e crítica da literatura portuguesa e fez a sua tese de doutoramento sobre o "Cancioneiro Geral" de Garcia de Resende. É membro do Graall (Grupo de Análise de Aspectos Linguístico-literários na Lusofonia), da Universidade de Santiago de Compostela.

O Padre António Vieira e as Mulheres – O mito barroco do universo feminino, José Eduardo Franco e Maria Isabel Morán Cabanas; Editorial Campo das Letras, Porto, 2008

Contacto: teresa.kaminhos@gmail.com

In "Kaminhos Magazine" 25.5.08

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Ano Vieirino em Ponta Delgada (2)

A realização de uma sessão solene, o lançamento de um volume de sermões, uma exposição e a inauguração de um novo topónimo na cidade, assinalaram em Ponta Delgada as primeiras comemorações oficiais, nos Açores, do Ano Vieirino.

Segundo o gabinete de imprensa da Câmara Municipal de Ponta Delgada, as comemorações destinadas a assinalar o IV Centenário do Nascimento do Padre António Vieira tiveram lugar na tarde e noite do passado dia 30 de Abril, com a Câmara Municipal de Ponta Delgada a associar-se à Comissão Nacional para as Comemorações do Ano Vieirino, sob o alto patrocínio da Presidência da República e do Patriarcado de Lisboa. Depois da inauguração da placa toponímica “Rua Padre António Vieira”, na freguesia de Arrifes, que registou o nome do Padre Jesuíta nos Açores, o ponto alto das primeiras comemorações deu-se nos Paços do Concelho de Ponta Delgada numa sessão solene em que esteve presente o Bispo de Angra, D. António Sousa Braga.

Na ocasião a presidente da Câmara Municipal, Berta Cabral, congratulou-se com o facto de a autarquia, juntamente com a universidade, terem sido interlocutores desta efeméride nos Açores, uma vez que ela está também a ser assinalada um pouco por todo o país. Berta Cabral afirmou que “Ponta Delgada coloca, de novo, os Açores no mapa da história das ideias e dos eventos culturais, com uma série de iniciativas que irão destacar a vida e a obra do grande pensador português” que foi o Padre António Vieira. Foi em Ponta Delgada que o Padre se inspirou para fazer o sermão a Santa Teresa, mais tarde publicado.

Rui Jorge Cabral in "Açoreano Oriental", 2.5.08

quarta-feira, 30 de abril de 2008

"A escrita do tempo de Vieira"

A partir do dia 6 de Maio, está patente no Museu Municipal da Ribeira Grande, uma exposição documental sobre “A escrita do tempo de Vieira”, promovida pela Câmara Municipal e inserida nas comemorações do ano vieirino.A exposição gira em torno da caligrafia do tempo do Padre António Vieira, com documentos originais do Arquivo Municipal da Ribeira Grande, que ilustram a forma de escrita do século XVII. Para além disso, faz parte da exposição a mostra de livros que falam sobre a vida e obra do Padre António Vieira, que foi um pensador, ensaísta, pregador, defensor dos direitos dos cristão-novo e dos índios do Brasil, consultor real e diplomata. Foi muito polémico na sua época, tendo sido detido pela inquisição.

A exposição está aberta no horário normal do museu, de segunda a sexta-feira, entre as 08h30 e as 17h30.

AZORESDIGITAL 30.4.08